INTRODUÇÃO
A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é um acometimento causado pela compressão de um nervo na parte anterior do punho, em uma região chamada de túnel do carpo. Esse tipo de compressão de nervosa é chamada de neuropatia compressiva e, dentre os diversos tipos, a STC é a mais comum em humanos. A prevalência do STC é estimada entre 4% e 5% da população, sobretudo entre 40 e 60 anos. A incidência é maior no sexo feminino (65% a 80%) entre 40 e 60 anos. Destes casos 50% a 60% são bilaterais.
O comprometimento de estruturas nobres na região do punho, entre as quais o nervo mediano, é considerado uma das causas mais frequentes de quadros dolorosos e das alterações sensitivas na região das mãos, especialmente nas extremidades.
A região do túnel carpal é atravessada por várias estruturas, entre vasos sanguíneos, tendões musculares, bursas e o nervo mediano. A STC acontece quando alguma alteração causa o estreitamento desse túnel ou diminuição do espaço lá dentro, ocasionando a compressão do nervo mediano. Essa compressão pode criar, sequencialmente, alterações na microcirculação, lesões nas células nervosas, tanto no axônio quanto na bainha de mielina e alterações nos tecidos conjuntivos que dão suporte para essa região.
Existem várias causas para a STC e ela pode ser classificada segundo essas causas. A maioria é idiopática, ou seja, não é possível identificar a causa com clareza.
CLASSIFICAÇÃO
As STC idiopáticas são mais comuns nas mulheres e cerca da metade deles é bilateral. Na verdade, essa bilateralidade, por aumentar com a duração dos sintomas, possivelmente acontece porque o indivíduo tende a usar mais a outra mão do que a mão doente, levando a uma sobrecarga da mão saudável. O sexo, idade e fatores genéticos e antropométricos (tamanho do túnel do carpo) representam os fatores de predisposição mais importantes. Outros fatores são a obesidade e o tabagismo.
As STC secundárias são divididas entre aquelas causadas por anomalias do continente (o próprio túnel do carpo) e as causadas por anomalias do conteúdo (as estruturas que atravessam o túnel do carpo).
Entre as anormalidades do continente podem ser citadas:
- Anomalias da forma ou da posição dos ossos do carpo;
- luxação ou subluxação do carpo;
- Anomalias da forma da extremidade distal do rádio: fratura (translação de mais de 35%) ou consolidação viciosa do rádio distal, material de osteossíntese na face anterior do rádio;
- Anomalia articular: artrose do punho, artrite inflamatória (por hipertrofia sinovial, deformação óssea e/ou encurtamento do carpo) ou infecciosa, rizartrose, sinovite vilonodular;
Já entre as anormalidades do conteúdo estão:
- Hipertrofia tenossinovial;
- Tenossinovite inflamatória: reumatismo inflamatório, lúpus, infecção;
- Tenossinovite metabólica: diabetes melittus, amiloidose primária ou secundária, gota, condrocalcinose;
- Anomalias de distribuição dos fluidos: gravidez, hipotireoidismo, insuficiência renal crônica (fístula arteriovenosa).
- Músculo anormal ou supranumerário: músculo palmar profundo, posição intratúnel do corpo muscular do flexor superficial, extensão proximal do corpo muscular dos músculos lumbricais;
- Hipertrofia arterial do nervo mediano persistente;
- Tumor intratúnel: lipoma, sinovial (cisto, sinoviossarcoma), neural (Schwannoma, neurofibroma, lipofibroma);
- Hematoma: hemofilia, acidente anticoagulante, traumatismo.
Existe também a STC dinâmica. Esta classe está relacionada com os movimentos repetitivos em flexão-extensão do punho, assim como flexão dos dedos e supinação do antebraço. A extensão prolongada ou repetitiva dos punhos e dedos está relacionado à patologia ocupacionais.
Por fim, a STC aguda, que ocorre também por diversos mecanismos:
- Traumatismo: deslocamento, por fratura do rádio distal ou luxação do punho;
- Infecção;
- Hemorragia por overdose de anticoagulante ou em caso de hemofilia;
- Injeção de alta pressão;
- Trombose aguda da artéria do nervo mediano;
CLASSIFICAÇÃO E SINTOMAS
Esta classificação foi proposta por Lundborg em 1988 (in Chammas, 2014):
- Estágio precoce – Inicial, caracterizado por sintomatologia intermitente unicamente noturna, que pode ser abrandada quando o paciente reposiciona o punho ou movimenta os dedos.
- Estágio intermediário – Os sintomas são noturnos e diurnos. Ocorre edema intersticial, espessamento conjuntivo do nervo e destruição da bainha de mielina. Após o alívio da compressão essas alterações são revertidas com o restabelecimento da microcirculação, com exceção da bainha de mielina, que demora semanas a meses para se reestabelecer e pode causar sintomas intermitentes persistentes.
- Estágio avançado – Há sintomas constantes, sinais de déficit sensitivo ou motor secundários à lesão e degeneração nervosa e do espessamento fibroso reacional dos envelopes conjuntivos. Após a liberação nervosa a recuperação demora vários meses e pode ser incompleta, dependendo do potencial de regeneração axonal do paciente.
TRATAMENTO
A terapêutica padronizada atualmente para a STC inclui, inicialmente, o tratamento conservador e, posteriormente, se necessária, a secção cirúrgica do ligamento transverso do carpo. A terapia conservadora é composta por fisioterapia, ajuste funcional do trabalho, uso de splints e drogas anti-inflamatórias não esteroides.
Em relação tanto ao tratamento como a prevenção da STC, a fisioterapia apresenta variação de recursos e técnicas, de acordo com os meios físicos utilizados, dispondo também da aplicação da ergonomia e ginástica laboral como métodos preventivos. No entanto, medidas isoladas não surtem efeito, somente a harmonia entre elas é que garante o sucesso no tratamento e na prevenção da STC.
Segundo Chammas (2014),existe um nível suficiente de evidências sobre a eficácia da injeção de corticoide, imobilização por órteses e corticoterapia via oral. Outros tratamentos (ultrassom, laser, diuréticos, vitaminoterapia B6, perda de peso) são controversos. Não existe recomendações com comprovação científica, nem consensos na literatura sobre a estratégia a adotar.
REFERÊNCIAS
CHAMMAS, Michel et al. Síndrome do túnel do carpo – Parte I (anatomia, fisiologia, etiologia e diagnóstico). Rev. bras. ortop., São Paulo , v. 49, n. 5, p. 429-436, Oct. 2014
CHAMMAS, Michel et al. Síndrome do túnel do carpo – Parte II (tratamento). Rev. bras. ortop., São Paulo , v. 49, n. 5, p. 429-436, Oct. 2014
DAVID, DR; OLIVEIRA, AAP, OLIVEIRA, RF. Atuação da fisioterapia na Síndrome do Túnel do Carpo – Estudo de caso. ConScientiae Saúde, 2009;8(2):295-299.
Carlos Alfredo de Oliveira Andrade
Fisioterapeuta
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